A Culpa é das Estrelas (Ou da nova geração)

Por muito tempo esperei ver um filme que me emocionasse novamente.
Sabem aquele terror do imprevisível, do final trágico que não pode ser mudado? Mesmo sabendo que é a última e melhor alternativa?
Aquele frio na barriga ao conhecer uma pessoa incrível? Aquele medo de não ser aprovado, o medo da morte e da vida?

cinema-filme-a-culpa-e-das-estrelas-2Achei que boas histórias estavam fadadas ao esquecimento, que não seriam mais escritas e menos ainda transformadas em filmes. Ultimamente vi “Crepúsculos”, “Tons de Cinza” e “Transformers”… Nada contra, mas a geração atual tem um gosto por sensações fortes, impossíveis e voláteis. Não se fala mais em preservação de relações, nem de superação de problemas… A bola da vez é “A fila anda”. O terrível “Te amo” no segundo encontro, passando pelos inícios e términos no Facebook, pelo grande mote de quantidade supera qualidade… Talvez estejam realmente certos. Focar no EU em vez de pensar no outro.
Estes dias estava pensando sobre isso… Os relacionamentos dão errado porque as pessoas pensam em agradar a si, antes de agradar ao outro. Isso me deixa confuso, sei que preciso crescer individualmente e que a felicidade está em mim e não no outro, mas tenho medo de viver sozinho em um mundo isolado, limitado pelos meus pontos de vista (onde sempre estou certo) em vez de misturar e tentar tirar proveito do crescimento mútuo. Vejo muita gente pensando em si, na sua dor, nos seus problemas, tentando repassar isso para frente em vez de tentar ser agradável para quem está ao seu lado. Isso não se restringe a namoros, é como uma energia que permeia todos os relacionamentos interpessoais, inclusive nas redes sociais.
No meio disso escapa a sensação do único, especial. Aquele grupo de pessoas que faz a sua vida ser diferente. Aquela pessoa que te entende e aceita, com seus defeitos, qualidades e medos. No tempo certo e na hora certa.

Bom, fiquei surpreso de perceber algo totalmente novo nesta história. A Culpa é das Estrelas é uma obra prima adolescente. Recontando o clássico de uma forma totalmente nova. Não espere ver um filme com cenas prontas para chorar, ao estilo Titanic (Ou qualquer drama generalista moderno). O que emociona não é a dor e sim a felicidade.
O pano de fundo envolve pessoas com câncer. Isso já me afastaria do cinema e me faria torcer o nariz (pelos dramas clássicos). O que o autor fez com isso foi criar uma densidade objetiva para que aquela história pudesse ocorrer, tornando tudo muito real. Na geração atual, pessoas não se entregam a grandes amores, porque a vida está apenas no início. Todos sabem que terão muitos anos pela frente, precisam de experiências para crescer, precisam da carreira, precisam de dinheiro e de estabilidade. Relacionamentos são passageiros. Mas o que acontece quando o tempo é curto e o resto não importa?
Assim como em Romeu e Julieta, o tempo era curto. O amor era impossível e a fuga era a única saída.
A Hazel é uma menina introspectiva mas não recai nunca no estereotipo de “criança doente”. Grande parte da personalidade dela está na condição de rir e brincar com a morte e em como todas as pessoas costumam tratar ela como uma “coitadinha”. Ela é uma adolescente rebelde e extremamente inteligente, dentro dos limites que o corpo dela permite.
O Augustus é um querido, um rapaz único que tenta tirar o melhor de cada segundo da vida. O que acontece e o que o filme retrata é a história de amor e o desenvolvimento destes dois personagens muito bem construídos.
A parte realmente emocionante (e que me tirou do sério mesmo) é como o namoro acontece, como as coisas são questionadas e solucionadas. O vilão da história não é a família, nem o câncer. É simplesmente o tempo. A impossibilidade de fazer aquela história maravilhosa durar mais alguns anos, embora todos saibamos que este tipo de amor romântico não dura pra sempre. Portanto, é perfeito que seja curto, no tempo certo. E emociona a intensidade do tempo em que isso acontece.

Preciso citar um trecho do filme (que é a contracapa do livro) e que é essencial para o entendimento da história:
“Não sou formada em matemática, mas sei de uma coisa: Existe uma quantidade infinita de números entre 0 e 1 e o 0,12 e o 0,112 e uma infinidade de outros. Obviamente, existe um conjunto ainda maior entre o 0 e 2, ou entre o 0 e o 1 milhão. Alguns infinitos são maiores que outros… Há dias, muitos deles, em que fico zangada com o tamanho do meu conjunto ilimitado. Eu queria mais números do que provavelmente vou ter. – Hazel Grace”

the_fault_in_our_stars_a_culpa_das_estrelas_trailer_featurette_novas_cenas_bastidoresPreciso declarar e repetir uma frase que me arrepia neste trecho… “Fico zangada com o tamanho do meu conjunto ILIMITADO”… Temos um conjunto ilimitado de opções, não importa o tempo disponível. “Eu queria mais números do que provavelmente vou ter”… Vontade de viver mais. Vontade de sentir mais, de amar mais.

Estes pontos que fazem a história ser tão incrível. O beijo, o carinho, a afirmação. O Medo de machucar o outro “Sou uma bomba relógio, estou te afastando porque um dia eu vou explodir e vou ferir todos ao meu redor, não quero te ferir” (porque te amo implicitamente). O medo simples da vida. A Realização da vida.

Os atores parecem que foram feitos para o papel. Lendo o livro eu enxergo os dois. A cara de safado / esperto presunçoso do Augustus, a fragilidade irônica da Hazel. A ironia do amigo deles (que perdi o nome). A montagem tem um ar leve, livre. Os diálogos são corretos, claros e objetivos. A história é contada em uma grande conversa entre poucos personagens e em momento algum ficamos entediados com ideias rebuscadas ou retomadas exaustivamente. Cada trecho foi cuidadosamente trabalhado para parecer interessante e verossímil. Lembra um pouco a magia de Antes do Amanhecer, mas com um ar mais dramático.

Bom. chorei, chorei muito… Talvez muito mais do que TODOS os que estavam na sala do cinema assistindo ao filme (fui no segundo dia da estreia e ninguém havia visto o filme ainda). Pela segunda vez, vi pessoas aplaudindo no final de um filme. O final, mesmo previsível, é superintendente. A chave de ouro para uma história perfeita. Acho um exagero aplaudir um filme em uma tela, mas aplaudi junto. A energia que foi transmitida não estava nos personagens, nem na tela, nem no cinema, estava ali ao lado. No choro de cada pessoa que assistiu aquela linda história de amor.

Fiquei feliz em saber que nem tudo está perdido e que ainda posso me emocionar com uma singela e bem contada história. Feliz por saber que vou sentir isso novamente.

Bom filme.

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