Meu conto de Verão – 02

Eu forço situações onde demonstro ciúmes, é um fingimento necessário.
Enquanto eles conversavam na internet , acabei demonstrando descontentamento pra deixar meu parceiro feliz, simulando o ciúme com relação ao relacionamento dele com este rapaz, mas na verdade nunca senti ciúmes dele. Confio muito nele pra sentir estas coisas sem sentido.

Nos encontramos em um banco, no horário marcado. Eu não estava presente quando o rapaz chegou, tinha ido ao banheiro. Não sei explicar diretamente o que aconteceu, primeiro me senti acuado, não por ele, mas por me achar incrívelmente obsoleto. Ele tem 7 anos a menos e uma jovialidade inacreditável.
A primeira coisa que me chamou a atenção foi o timbre de voz, absolutamente masculino, com aquele rouco no fundo, típico de pessoas que cresceram a
beira mar. Nos primeiros minutos de conversa, o gelo foi quebrado pelo meu parceiro, que por conhecer o rapaz fazia piadas de assuntos em comum.
Eu fiquei meio por fora, acompanhando o desenrolar do papo, tentando absorver aquela intimidade que os dois haviam desenvolvido nos papos de internet.
Trocamos de local e fomos para uma área mais íntima. Neste momento comecei a sentir o nervosismo…

Não sei como explicar, um tremor no corpo, um frio “quente”. Uma necessidade desconhecida e sem motivos. Primeiro pensei que fosse porque eu estava sem comer, mas depois parei de me enganar e passei a perceber de onde vinha a sensação.

O assunto desenrolou para a percepcão de vida, morte, religião e passado de cada um.
O meu nervosismo foi notado pelos dois, dei desculpas infelizes. Não conseguia olhar pra ele, não conseguia tocar no meu parceiro. Meu coração “pulava”
dentro do peito e eu comecei a suar frio.
Conversamos das 16h até as 20h naquela praça. O assunto fluiu de uma maneira tranquila, como se nos conhecessemos há anos.
Ele, mesmo com pouca idade, tem uma cabeça incrível, um ótimo contador de histórias, um ícone na família e na vida, mas com diversas preocupações,
sentimentos conflitantes e uma necessidade de transparecer tranquilidade e força. Os sentimentos dele afloram através das histórias que ele conta,
o olho brilha, mas ele avalia a nossa forma de pensar de maneira mecânica.
Será muito difícil entender a mente dele, mas é um ótimo desafio.
Começa a anoitecer e combinamos de irmos até nosso apartamento. No caminho continuamos conversando sobre diversas coisas.
Em casa, aquela tensão volta e eu não sei o que fazer com isso… Fico deitado no chão tentando me acalmar, vou tomar um banho para tentar compreender
o que aquilo está me dizendo.
Eu noto o olho dele observando nossas reações, meu corpo, meu parceiro. A palavra dele gera em mim uma sensação de eletrecidade. O tesão é iminente mas contido.
Ao mesmo tempo em que as sensações físicas surgem, também inicia uma forte cumplicidade e amor fraterno. Não sei como isso pode ser possível, é como sentir tesão pelo teu irmão.
Levamos ele para o ponto de ônibus.
Ao voltar pra casa, o suspiro é inevitável.

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