Como você julgou o outro hoje?

Estava revendo alguns episódios de 13 reasons why e pensando em tantas coisas que aconteceram com a personagem e pessoas ao redor

É um pouco assustador perceber o abismo que as conexões sociais deste tempo criam entre as pessoas. Vivemos em um mundo onde ter alguém muito próximo é algo extremamente raro, até indesejável.

É inevitável que tenhamos uma visão crítica sobre alguém. Nossa sociedade condiciona a termos uma visão palpável e real. Ao vivermos neste mundo, precisamos de uma clareza do que é “certo” e “errado”, é exigido projetar isso no outro para reforçar nossa atitudes, sendo elas acertadas ou falhas.  Acabamos condicionando nossos amigos a tais papeis e misturamos tudo em nossa cabeça. O primeiro efeito disso é a repulsão mútua.

Então temos pessoas que traem, mentem, usam seu dinheiro de forma a se destacar, seus títulos acadêmicos, magoam sem dó. Também pessoas que não sentem nada. E entre estas, temos as que se suicidam, as que matam, as que apoiam defensores da dor.  E para nós é muito fácil “chamar de louco”, ou sentir pena do coitado mal direcionado. Mas ninguém está dentro da cabeça da pessoa para entender os motivos que fizeram com que ela tenha tomado tal atitude. Não percebem todo o peso da história individual (óbvio que não percebem, ela não contou a ninguém). O suicida sente tanto esta desconexão, que acaba por realizar o óbvio, não tem absolutamente nada a preservar, portanto nada a perder.  O ostentador possui uma necessidade de auto afirmação e insegurança tão grande quanto a falta de existência do suicida, bem equivalente ao que usa seus títulos de trabalho ou acadêmicos para sobrepujar o outro. A pessoa que trai, tem um desapego tão grande de quem está consigo que simplesmente não sente que aquele ato físico e sem conexão está magoando expectativas veladas (ou acordos) do outro. Quem mente deliberadamente não percebe que a verdade pode trazer a conciliação mais rápido do que o peso dos desdobramentos a que se submete.

Estar próximo é assumir que temos falhas e possuir falhas é um grande problema. Nos tira o protagonismo, nos deixa fracos e permite que o outro nos sobreponha, seja financeiramente, socialmente, intelectualmente.
Ser aberto é ser incompleto, ser insuficiente, é assumir que eu não sei sobre tal assunto. É deixar que o outro exponha sua maneira de pensar sem criticar e entender que eu posso também fazer o mesmo. Também é defender seu ponto de vista, mas sem ferir. Não sei a forma correta, porque não tenho esta habilidade.

Antes eu usei a palavra repulsão para falar sobre como os abismos das certezas nos afastam. Você pode pensar em nojo, pode ser forte, mas definitivamente não é algo ameno como apenas afastamento. Temos repulsa por abrirmos nosso pensamento ao outro, com medo dos julgamentos que nós próprios fazemos deles (nossos).

O que não percebemos é que exatamente pela falta de abertura a que fomos impostos (ou impomos) são gerados todas essas faltas. Quanto mais julgarmos de maneira agressiva, mais seremos tratados da mesma forma e mais ampliaremos o leque de fugas individuais.

Não tenho a resposta para tais questionamentos, apenas a percepção objetiva de que isso ocorre. Não sei como agir com pressão, nem com críticas e muitas vezes sei que estou errado mas permaneço na tese, talvez para mostrar o motivo pelo qual cheguei a tal lógica quebrada e ser compreendido.

E no fim cru fica a reflexão, como você julgou o outro hoje?

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