Depois de 13 Reasons Why – Não leiam antes de TERMINAR o seriado

Em primeiro lugar, esse texto contém revelações do enredo. Não vou medir palavras dessa vez.  Então não leiam antes de assistir ao seriado, e também não leiam se não pretendem abordar o tema de maneira clara e adulta.

Acabei de assistir 13 Reasons Why… Quem terminou sabe o que eu estou sentindo agora… Quem me conhece sabe talvez o motivo por eu ficar tão impactado com a história.

Souberam passar com um realismo impecável o sentimento que faz com que uma pessoa cometa suicídio. Não é uma sensação de dor, nem de trauma, muito menos de ter um problema. É somente o vazio de entender que nada que tu tente seja eficiente pra resolver um conjunto de situações que é irrelevante aos outros. Especialmente nos últimos episódios isso fica bem claro.

Vi críticas de alguns amigos e conhecidos sobre o começo da série, realmente… A sensação de vazio que foi impressa é real e não depende de muitos fatores. São atitudes simples, acontecimentos mundanos, quebras pequenas. Maus entendidos fáceis de serem resolvidos.

Com o andar dos episódios, os problemas da Hanna são ampliados. Um pouco de cada vez. Um probleminha, uma frase torta, uma má compreensão, uma brincadeira inútil e mal pensada. Ela não tem problemas reais. Estuda em uma escola boa, tem perspectivas, tem uma família que a ama… tem tudo o que uma menina pode ter. Mas, o distanciamento e o foco nos problemas acaba direcionando para o vazio.

As tentativas da Hanna de buscar ajuda são totalmente infrutíferas, todos vivem sua vida e fazem isso da melhor maneira que podem. Essa falta de atenção e compaixão que acaba gerando o “foda-se” de todo o mundo com as inseguranças dela.

Mas cada pessoa da um peso diferente para seus problemas e cada um vive suas sensações de maneira particular. Todos vivemos ligados nos nossos smartfones curtindo e compartilhando bons momentos das nossas vidas sem perceber o lado difícil de estar naquele mundo do outro.

Eu mesmo já machuquei pessoas muitas vezes sem saber como agir com determinada situação.

Ai que entra a genialidade e a sensibilidade do seriado. Em vários momentos me identifiquei com frases ditas e situações que ocorreram. Existem muitas Hannas por ai, pessoas que vocês nem imaginam que estão passando por problemas e que dão indícios bem superficiais do que está acontecendo. Quando essas pessoas pedem ajuda, recebem baldes de água fria. O famoso (e já dito pra mim) procura um médico pra se tratar.

Muitas vezes tu precisa apenas de alguém que tu tenha confiança pra falar sobre o assunto. E muitas vezes vai demorar muito tempo para que realmente seja possível falar sobre isso.  Existem momentos, principalmente quando ela afasta o Clay, onde ela queria que ele não houvesse ido embora, mas o que ela diz é diferente do que ela pensa. Passo por isso. Já vi amigos suicidas e depressivos passando por isso. As pessoas agem de forma diferente do que elas gostariam de agir.

As vezes a raiva e a força escondem a maior fragilidade.

Outro ponto interessantíssimo é a forma adulta como os adolescentes são retratados. São apenas adolescentes, mas é um reflexo dos nossos dias como adultos. São situações que todos passamos quando eramos adolescentes, cada um com seu peso e sua forma, mas se for traçado uma linha com a nossa vida atual, são coisas que vivemos no dia a dia. Principalmente neste mundo conturbado e solitário em que vivemos.

No fim, não sabemos em quem confiar, não sabemos como dizer o que realmente nos incomoda nas situações.

Qual foi a última vez na qual tu perguntou pra um amigo, tudo bem? E ele disse “mais ou menos” e tu ficou ali ouvindo ele falar dos problemas idiotas da vida dele? As pessoas não tem paciência para sentir empatia, e não conseguem se colocar no lugar do outro pra perceber efetivamente o que está ocorrendo. Os problemas que aquele amigo está contando são apenas a ponta de um iceberg de sensações e um somatório de pequenas desventuras que transformam aquilo em algo muito difícil de ser tratado por ele naquele momento.

O seriado não fala de suicídio, fala de saber ouvir e saber entender o outro. Saber que cada palavra dita tem um poder imenso. Saber pedir desculpas, saber perdoar.

Enfim, uma ótima série, uma ótima abordagem. Espero que não exista um segundo ano. Vai estragar…

 

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1 Comments

  1. Baita reflexão amigo. Inteligentíssimo como sempre. Saiba que estou aqui, sempre te escutei e sempre fui ouvido e estou certo que nossa cumplicidadd e ouvidos perdurarão ad infinitum. Conte sempre comigo amigo, porque sei que posso contar contigo. Te amo.