O tempo e a lua

Eu quero conhecer alguém que possa chorar olhando pra lua;
Que saiba que o sorriso é passageiro e que a alma é eterna;
Eu quero conhecer alguém que veja a diversidade das estrelas e entenda que o brilho delas é inalcançável.  Que o negro ao redor é a prisão eterna e que a luz passa por qualquer escuridão;
Quero conhecer alguém que entenda que o homem é nada e que o corpo é a expressão do pensamento;
Quero conhecer alguém que saiba que a vida tem prazo e que o tempo é tão sólido como uma rocha;
Quero conhecer alguém que ouça o ruído do mar na concha e perceba que o oceano está dentro de nós.

Quero amar alguém que mereça meu amor.  Que entenda minhas falhas e possa me ajudar com elas;
Alguém que veja minhas pupilas dilatadas com meus olhos fechados.  Ouça os estalos da minha pele no arrepio e meu coração batendo pelo gosto da minha saliva;
Onde a voz ecoe nos meus ouvidos com uma gravidade estridente. Quando o cheiro sem tratamento trance os pêlos das minhas narinas;  Que o gosto da tua pele me deixe cego;
Quero a intensidade.  A compreensão e a audácia.  A força e a suavidade…

Quero algo que só existe na minha mente.  Algo intangível como a distância até as estrelas ou o calor da lua; Como a alma do oceano na concha ou a maleabilidade da rocha rígida.
Algo que tive por um segundo com você.

Como o tempo pôde ser tão agressivo? Quando foi que esse segundo se tornou aço frio?
Me rasgou as costas e o peito. Rasgou minha percepção e personalidade. Destruiu minhas certezas e estilhaçou minha alma.

Mas…

Mesmo com a dor, meu corpo é forte e meu coração transgride a agressão.  Sobrou muito da minha alma por dentro da carne destruída.
O tempo, assim como esmaga e tritura,  também perdoa.  Tão forte quanto um diamante impuro e rígido, um cristal de carbono negro imutável amorfo, existindo além da dor, também para nos lembrar que uma coisa só pode existir após outra terminar;

E a dor vai fluir como o mar em maré baixa, cada vez mais distante até a calmaria. Como em ondas misturadas com areia e entulhos, vai retraindo, indo e vindo, até o seu reflexo não ser mais distinto entre as marolas das outras dores do mundo.

Nesse dia, o ruído será de outros olhos, a alma cicatrizada vai sentir novamente o arrepio de outras peles, outros calores e outras vidas serão agregadas, aquele segundo de aço torna-se ferrugem.
O tempo vai perdoar, a força que arrasta o mundo faz o passado se tornar uma lição. Uma lembrança boa e relevante para o próximo tu que surgirá dentro de mim;
Mas ai será só eu e ele, você não passará de um alerta, poeira vermelha desfeita, devidamente oculto na memória de mim. Alguém que pôde tirar meu coração do ócio e me fez acreditar que existe algo pra sentir.

Aguardo o tempo… Aguardo a sorte…. E guardo tudo em mim.

Que o tempo me traga um vislumbre do segundo passado, com a força do meu futuro.

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