As individualidades tornam pessoas palpáveis. Isso é um conceito básico e simples. Mas no meio de todas as características incomuns, existem sementes difíceis de serem cultivadas.

Com o passar do tempo, me cerquei de companhias. Consigo separar as boas, as ruins, e aquelas que tem um objetivo simples – Me aproximar de alguém por interesse exemplo. Não é errado ter expectativas ao conhecer alguém. Todos fazemos isso o tempo todo. É difícil gerenciar isso e ter consciência / assumir o lado interesseiro dos relacionamentos.

Dito isso, me pergunto o que aconteceu com os relacionamentos sexuais. É fato que as individualidades estão cada vez mais coesas. Cascas grossas separam cada pessoa do outro e fazem com que as aproximações tornem-se difíceis em um nível além do superficial.

Nos últimos dias, passei por situações incomuns pra mim. Vivi uma série de encontros “interesseiros”, onde o único objetivo era a satisfação sexual. Nestes encontros, não restou nada, ou quase nada. Sabem aquela sobremesa deliciosa preparada pela sua vó? Aquela que ela faz em momentos especiais da vida, como um aniversário, final de ano (a especialidade da minha é sagu com creme… Nunca como em restaurantes porque o da minha vó é único). Vamos ao encontro esperando que a vó tenha feito o sagu dela, comemos até nos esbaldarmos. Mas agora pergunto… O que acontece se comêssemos a mesma sobremesa todos os dias? O que faz aquele alimento ser tão especial é o preparo, amor, e raridade com o qual experimentamos o sabor. Existe muito mais da situação envolvida do que no simples ato de comer sagu.

Hoje, a vida está oferecendo excesso de “sobremesas”. O lado especial do sexo foi completamente perdido entre as liberdades de expressão individual. Óbvio que eu faço o que eu quero com meu corpo e se eu quiser sentir prazer, eu vou sentir prazer e ninguém tem absolutamente nada com isso. Mas eu dou prazer e recebo o retorno envolto em uma casca de individualidade e ausência de troca. Eu sempre procurei ter relações com alguém com a qual eu possa levar pelo menos amizade, ou uma risada, ou uma boa história, não apenas só  uma gozada sem sentido. O que percebo é a constante gozada sem sentido, após um “frio” – Pega aquela toalha ali pra se limpar. E depois um contato inóspito  whatsapp – AH, foi legal, qualquer dia desses nos falamos… Isso quando sou respondido.

Não espero em hipótese alguma um namoro, tampouco um grande amigo, espero cordialidade e humanidade. E estes fatores estão se tornando artigos raros.

Por um tempo comecei a pensar que eu estava extremamente fora de forma, e que transar comigo era ruim. Até descobrir com outros amigos que todos sentem isso. Apenas eu estou tendo coragem de expressar esta forma de pensar. O sexo foi bom, houve envolvimento, houve tesão, mas não foi nada além de uma expressão mecânica animal, sem sentido absoluto. E dessa forma, a troca sexual acaba perdendo várias características que poderiam torna-la algo além de tomar banho ou bater uma punheta antes de dormir.

Não acho, em hipótese alguma, que sexo deve ter uma aura especial, ou que deva ser encarado como algo de outro mundo. Mas, efetivamente, o ato sexual é uma das maiores trocas de intimidade que a biologia humana nos oferece. É tão importante quanto um abraço de felicitação, quanto um grito compartilhado de um time de futebol que ganhou, quanto o choro convulsivo no ombro de um amigo quando este te entende os sentimentos.

O sexo possui a propriedade de unir corpos, gestos, carícias e desperta emoções físicas e sensações mentais como poucas atividades humanas podem fazer. O fato aqui não é banalizar o sexo, e sim aproveitar a interação que ele pode proporcionar. Afinal, podemos transar com quantos quisermos, da forma que quisermos, com as preferências e opções individuais, mas sempre que isso acontecer, deem algo de si e recebam algo do outro.

No momento não tenho aspirações românticas, mas tenho necessidade de troca emocional e sexual.
Estou seco de ambos. Tenho várias plantações sociais, incontáveis contatos e nenhuma chuva para que algo cresça em aspecto algum. Se até fosse possível cultivar ervas daninhas em vez de flores, seria alguma coisa.

Agora, o terreno é árido e as sementes estão secas.

Preciso de um tempo pra pensar. Preciso aceitar que não terei nada além de pó ou lutar para ter aventuras sexuais com quem realmente possa trocar. Também posso expressar minha forma de pensar para que, alguém, em algum lugar do mundo, reduza sua casca e passe a perceber e sentir o contato que o outro pode oferecer. Seja bom, seja ruim, mas seja verdadeiro e que possa ser sentido.

Uma semente a ser regada.